Hospital de campanha montado em clube esportivo durante a pandemia | Foto: Acervo Histórico Alesp
Historiadores acreditam que a gripe espanhola tenha provocado a morte de 35 mil pessoas no Brasil. Calcula-se que a pandemia tenha afetado direta ou indiretamente 50% da população mundial.
Em 1918, quando o mundo vivia os horrores da Primeira Guerra Mundial, uma outra tragédia se abateu sobre a humanidade, vitimando, pelo menos, 50 milhões de pessoas em pouco mais de um ano, segundo historiadores. Essa tragédia foi a pandemia da gripe espanhola, que não surgiu na Espanha, mas recebeu esse nome por conta da forte divulgação do problema na imprensa espanhola. A teoria mais aceita pelos pesquisadores é que a gripe, provocada pelo vírus influenza, tenha surgido nos campos de treinamento militar nos Estados Unidos, em março de 1918. Em maio surgiram casos na Grécia, Espanha e Portugal. Depois, em junho, Dinamarca e Noruega, e, em agosto, Holanda e Suíça. Essa primeira onda da doença, extremamente contagiosa, foi considerada mais benigna que as seguintes. A chamada segunda onda, muito mais virulenta, teve início ainda em agosto de 1918, envolvendo, além da Europa e Estados Unidos, Índia, Sudeste Asiático, Japão, China, África e Américas Central e do Sul. Provocou número elevadíssimo de mortes. A terceira e última onda começou em fevereiro de 1919 e terminou em maio seguinte.
A rápida difusão da doença tornou a situação alarmante em diversas partes do planeta, uma vez que a quantidade de infectados disparou e os sintomas passaram a ser mais graves. Febre, dor no corpo, coriza, tosse eram os sintomas mais comuns; entre os casos graves, os pacientes apresentavam problemas respiratórios e até mesmo digestivos e cardiovasculares.
Os médicos e cientistas da época não sabiam o que causava a doença, pois os microscópios não tinham capacidade de enxergar o vírus, eles apenas identificavam bactérias, micro-organismos maiores. Como não havia nenhuma forma de curar a doença, as autoridades recomendavam que as pessoas evitassem aglomerações, lavassem suas mãos com frequência e evitassem contato físico.
No Brasil
Os historiadores acreditam que a gripe espanhola chegou ao Brasil em setembro de 1918, a bordo do navio inglês Demerara, vindo de Lisboa. A princípio, a imprensa brasileira não deu muita importância ao fato, mas à medida que a doença foi se espalhando, ela passou a ganhar repercussão. As cidades mais atingidas foram o Rio de Janeiro, então, capital do País, e São Paulo. Há estudos segundo os quais a cidade de São Paulo registrou cerca de 350 mil casos; na época, a população estimada da cidade era de 470 mil habitantes. O número de mortos pela doença foi de 5.328, de acordo com o Atlas Histórico do Brasil, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas. Para conter a disseminação da doença, o então Serviço Sanitário Estadual pediu para a população isolar-se em casa, restringindo as saídas ao estritamente necessário. Escolas foram fechadas, sendo muitas delas transformadas em hospitais provisórios para tratamento dos doentes. Bares, teatros, cinemas, comércio e indústria encerraram suas atividades. A circulação em espaços públicos, como praças, parques e jardins também foi restringida. Na capital federal foram registrados 14 mil óbitos, segundo dados apurados pela Fundação Oswaldo Cruz. Câmara e Senado foram fechados, assim como quartéis e fábricas.
A quantidade alarmante de casos provocou o colapso do sistema de saúde brasileiro, que, à época, não era público. Faltavam leitos e médicos para atender à demanda. O número de óbitos extrapolou a capacidade de enterros que os cemitérios locais poderiam realizar. Os coveiros passaram a trabalhar também no período da noite.
Entre as milhares de vítimas da gripe espanhola está o presidente eleito, Rodrigues Alves. Doente, ele não pôde tomar posse em novembro de 1918, vindo a falecer em janeiro de 1919. Historiadores acreditam que a gripe espanhola tenha provocado a morte de 35 mil pessoas no Brasil. Calcula-se que a pandemia tenha afetado direta ou indiretamente 50% da população mundial. O número total de mortos, 50 milhões, supera o total de vítimas fatais provocado pela Primeira Guerra Mundial, estimado entre 8 e 10 milhões de pessoas.