Covid-19: E o mundo voltou a girar

Em 2020, o mundo parou, assustado e preocupado com os efeitos de um novo vírus, sobre o qual pouco se sabia, apenas o fato de que tinha alto poder de contaminação. Em contrapartida, a ciência agiu com rapidez nunca vista e, em pouco tempo, vacinas eficientes estavam disponíveis. Mesmo assim, 2020 e 2021 foram difíceis para as pessoas, a indústria e o comércio. Agora, com a vida voltando à normalidade, é o momento de parar e tirar lições, de aprender com o que foi vivido, de olhar para frente, de retomar expectativas que precisaram aguardar a melhor oportunidade para serem concretizadas.

No início de 2020, quando foi declarada oficialmente a pandemia, a Brado, empresa que oferece soluções para a logística de movimentação de contêineres, como praticamente todas as empresas, sentiu os efeitos. “A companhia foi afetada principalmente no mercado externo, pois houve uma expansão do consumo por e-commerce”, afirma Daniel Salcedo, gerente executivo comercial da Unidade de Mercado Interno da empresa. Os brasileiros começaram a comprar mais pela internet, pedir comida por aplicativo. Essa realidade foi ainda mais acentuada nos países da Europa e nos Estados Unidos.

Por conta dessa nova realidade, o armador, que é o dono do navio e do contêiner, deslocou a frota marítima da costa leste da América do Sul para as rotas da China para os Estados Unidos ou da China para a Europa. “Essa situação fez com que os preços dos fretes marítimos disparassem e houvesse menor disponibilidade do ativo contêiner para atender nossa solução modal”, lembra Salcedo.

A estratégia da Brado foi crescer nas operações de mercado interno de bens de consumo. Dentro do território brasileiro, a empresa tem menos dependência do mercado internacional. “O que perdemos no mercado externo, acabamos ganhando no interno.” Antes da pandemia, o mercado interno representava menos de 15% do negócio. Hoje, já responde por mais de 30%. A curva de crescimento de market share e de novos clientes, que teve um salto durante os anos de pandemia, se manteve. A empresa segue com um crescimento significativo na cadeia de bens de consumo, suportado por investimentos em tecnologia e eficiência operacional. “Daqueles anos difíceis que passamos tiramos a lição de que companhias e a própria sociedade precisam estar preparadas para crises como a da Covid-19. Conseguir adaptar-se rapidamente às novas realidades é outra lição fundamental.”

Cuidado e tensão

Na Total Química, empresa do segmento de higiene e limpeza, a chegada da pandemia foi um momento de cuidado e tensão. O CEO Kiko Mari afirma que, imediatamente, foram adotadas medidas internas e de segurança visando assegurar que seus colaboradores se sentissem tranquilos. O trabalho híbrido e em home office foi adotado, os escritórios e refeitórios foram readequados, os turnos de revezamento, ajustados, e a carga horária, reduzida. Todos os funcionários do grupo de risco foram afastados. Kits de limpeza e higiene e máscaras foram doados aos colaboradores, e o grupo que atua de forma externa, como os promotores, recebeu crédito adicional. No processo de retomada houve apoio ao uso de aplicativos para os deslocamentos casa-trabalho e vice-versa.

Sendo uma empresa da área de limpeza e higiene, a Total Química teve grande importância no suprimento de produtos destinados à proteção da população. De acordo com Kiko Mari, foram milhares de consumidores atendidos com a sua linha Total Protect, especialmente álcool em gel, nas embalagens de 120ml e 5 litros. Foram reforçadas as vendas de Sanol Pinho e Força Bruta, duas linhas com alto poder antibacteriano, que eliminam 99% dos germes, fungos e bactérias.

O efeito dessas estratégias foi um crescimento da ordem de dois dígitos em 2020. A performance de 2021 foi de bons resultados, com faturamento superior ao verificado em 2019. No ano passado, a empresa fez a retomada das atividades presenciais, mas as medidas de adequação das estações de trabalho foram mantidas.

Híbrido veio para ficar

Sendo uma indústria alimentícia, a Biscoitos Porto Alegre conseguiu rapidamente adaptar-se às exigências demandadas pelo coronavírus, mantendo o ritmo de trabalho. Graças a essa agilidade, a retração dos primeiros meses deu lugar ao mesmo nível de atividade registrado antes da pandemia. O que está sendo difícil para a empresa é lidar com os aumentos sucessivos das matérias-primas e dos insumos. “O repasse ao mercado tem sido bem difícil, as negociações são longas. Temos mantido números semelhantes aos de 2021, mas com boas expectativas para o segundo semestre”, adianta Sérgio Falque, gestor da Biscoitos Porto Alegre.

O executivo acrescenta que a pandemia antecipou projetos de médio prazo, como o trabalho remoto e híbrido. “O relacionamento entre campo, indústria e varejo mostrou necessidade de aproximação e sinergia. A área comercial se ressente muito da falta de visitas, do presencial, mas o híbrido veio para ficar.”

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