Consumo nacional terá crescimento inferior a 1% em 2022

Contrariando expectativas, o consumo das famílias brasileiras neste ano deverá apresentar crescimento real de apenas 0,92% em relação a 2021, a uma taxa positiva de 0,42% do PIB. O total a ser movimentado é de cerca de R$ 5,6 trilhões. A estimativa é do estudo IPC Maps 2022, especializado há quase 30 anos no cálculo de índices de potencial de consumo nacional, com base em dados oficiais.

De acordo com Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pela pesquisa, esse resultado é reflexo da lenta recuperação pós-crise pandêmica, agravada pelo atual cenário de confronto entre a Rússia e a Ucrânia. “A expectativa era de crescimento em torno de 2%, porém a guerra entre as duas nações europeias, as altas do petróleo, que refletem em aumento dos combustíveis, e a inflação acelerada mudaram o quadro.” Pazzini acrescenta que, embora o mundo todo esteja sentindo os reflexos do conflito, o Brasil já vinha apresentando elevação das taxas inflacionárias, o que contribuiu para o baixo resultado.

Hoje, o Brasil possui cerca de 215 milhões de habitantes. Destes, 182 a 185 milhões moram na área urbana e são responsáveis pelo consumo per capita de R$ 28.708. A população que vive na zona rural, 32,64 milhões, tem gastos individuais de R$ 12.614. A base consumidora é liderada pela classe B2, que representa cerca de R$ 1,2 trilhão dos gastos. Somada à classe B1 (20,8% dos domicílios), totaliza mais de R$ 2 trilhões ou 38,8% de tudo que será desembolsado pelas famílias brasileiras. As classes C1 e C2, presentes em quase metade das residências (47,9%), deverão ter gastos de R$ 1,9 trilhão (36,4% do total). Já o grupo D/E, que ocupa 28,8% das moradias, com consumo de R$ 557,8 bilhões, representa 10,7%. Totalizando apenas 2,5% das famílias, a classe A terá desembolso de R$ 740 bilhões (14,1%). Já na área rural, o montante de potencial de consumo é de R$ 411,7 bilhões ou 7,3% do total.

Hábitos de consumo

A pesquisa detalha como as famílias deverão gastar sua renda. Um dos destaques é o aumento dos gastos com carro próprio, 11,56%, ultrapassando os desembolsos com alimentação no domicílio e bebidas (10,53%). “Como na pandemia muitas indústrias pararam de produzir, principalmente autopeças eletrônicas, as empresas tiveram que prolongar os prazos de entrega e reajustar seus valores. Enquanto isso, crescia a demanda por transportes via aplicativos e deliveries, tanto pelo consumidor – que passou a usar mais esses serviços – quanto pelos trabalhadores – que viram nesse segmento uma oportunidade de compensar a perda do emprego ou de parte de seu salário ou, ainda, de ter uma renda extra”, explica Marcos Pazzini.

De qualquer forma, os itens básicos seguem como prioridade na hora do consumo: 25,60% dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás); 18,21%, outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc.); 9,4%, alimentação no domicílio; 6,66%, medicamentos e saúde; 4,63%, despesas com alimentação fora de casa; 3,41%, vestuário e calçados; 3,75%, materiais de construção; 3,48%, educação; 3,31%, recreação, cultura e viagens; 3,26%, higiene pessoal; 1,51%, móveis e artigos do lar; 1,49%, eletroeletrônicos; 1,47%, transportes urbanos; 0,53%, artigos de limpeza; 0,44%, fumo; e, 0,17%, joias, bijuterias e armarinhos.

Cenário regional

O estudo IPC Maps aponta que a Região Nordeste recuperou a vice-liderança no ranking de consumo entre as regiões brasileiras, com participação de 18,2% no consumo local. “A volta de turistas, tanto brasileiros como estrangeiros à localidade, bem como a injeção pelo governo do auxílio emergencial em paralelo com outros programas sociais contribuíram para o salto no ranking”, analisa Pazzini. Em contrapartida, a Região Sul, que havia crescido durante a pandemia, caiu para a terceira posição (17,9%), afetada por problemas relacionados à seca. O Sudeste continua liderando o ranking das regiões, respondendo por 49% do consumo nacional. Como no ano passado, o quarto lugar continua sendo ocupado pelo Centro-Oeste (8,5%). Por último, vem a Região Norte, que terá 6% de representatividade no consumo nacional.

O desempenho dos 50 maiores municípios brasileiros corresponde a R$ 2,2 trilhões ou 39,5% do total consumido no País. De 2021 para 2022, os 12 principais mercados mantiveram suas posições: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Goiânia, Manaus, Campinas (SP) e Recife. Também de destacam as capitais Belém, Campo Grande e São Luís e as cidades de Guarulhos, São Bernardo do Campo, Ribeirão Preto e Santo André, no Estado de São Paulo, e São Gonçalo e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.

Perfil empresarial

De 2021 para 2022 houve uma retração de 5,4% no total de empresas, com o fechamento de mais de 1,1 milhão de unidades. Hoje, o Brasil conta com 21.127.759 empresas instaladas. Na análise por natureza jurídica, o segmentos de Sociedades Limitadas e Anônimas foram os que, percentualmente, mais fecharam as portas (11,2%), seguidos por microempreendedores individuais (MEIs), com (7,2%). “Os altos impostos associados à proliferação de MEIs e ao baixo teto de faturamento contribuíram para o encerramento dessas atividades”, explica Marcos Pazzini. Do total exato de 1.199.469 de empresas que fecharam, 1.026.570 eram MEIs, o que evidencia a ocorrência do declínio empresarial especialmente na faixa de faturamento mais baixo.

Dentre as companhias ativas, quase a metade (11,6 milhões) está relacionada a Serviços. Em seguida, aparecem os segmentos de Comércio (5,4 milhões), Indústrias (3,4 milhões) e Agrobusiness (764 mil). A Região Sudeste lidera em concentração de empresas (49,3%), seguida pelo Sul (18,1%), Nordeste (17,4%), Centro-Oeste (8,9%) e Norte (6%). Na análise quantitativa de empresas para cada mil habitantes, a pesquisa IPC Maps revela que as regiões Sul e Sudeste lideram com, respectivamente, 127,8 e 121,7 empresas por mil habitantes; o Centro-Oeste aparece com 103,9 e, bem abaixo da média, Nordeste, com 60,3, e Norte, com apenas 51,5 empresas por mil habitantes.

Faixas etárias

A população idosa continua crescendo, chegando a 32,4 milhões de habitantes em 2022. Na faixa etária economicamente ativa, de 18 a 59 anos, o total passa de 129 milhões, o que representa 60,1% da população brasileira, sendo mulheres em sua maioria. Já os jovens e adolescentes, entre 10 e 17 anos, somam 23,9 milhões, sendo superados por crianças de até 9 anos, que totalizam 29,4 milhões.

O estudo IPC Maps é publicado anualmente pela IPC Marketing Editora, empresa que utiliza metodologias exclusivas para cálculos de potencial de consumo nacional. O levantamento é o único que apresenta em números absolutos o detalhamento do potencial de consumo por categorias de produtos para cada um dos 5.570 municípios do País, com base em dados oficiais, através de versões em softwares de geoprocessamento. Este trabalho traz múltiplos indicativos dos 22 itens da economia, por classes sociais, focados em cada cidade, sua população, áreas urbana e rural, setores de produção e serviços etc., possibilitando inúmeros comparativos entre os municípios, seu entorno, Estado, regiões e áreas metropolitanas, inclusive em relação a períodos anteriores. Além disso, o IPC Maps apresenta um detalhamento de setores específicos a partir de diferentes categorias.

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