Incertezas no começo do ano,esperanças no final

Em fevereiro de 2022, o mundo foi abalado pelo início da guerra entre Rússia e Ucrânia. Esse fato levou a uma pressão inflacionária global. O Brasil, que já enfrentava dificuldades diante das incertezas internas, também foi afetado. O estudo Tendências, elaborado pela consultoria NielsenIQ, mostra como foi o primeiro trimestre deste ano em comparação a igual período do ano anterior e adianta que, apesar dos problemas, o brasileiro está otimista em relação ao desempenho da seleção na Copa do Mundo do Qatar, o que pode alavancar as vendas de muitos produtos.

O primeiro trimestre de 2022 apresentou uma retração de volume de 8,5% e aumento do faturamento de 2%. A queda em volume se deu praticamente em todos os canais, com destaque para o autosserviço independente, com retração de 15,6%, e bar, 16,3%. O verão chuvoso, a quarta onda da Covid-19 e a não realização do Carnaval no começo do ano foram fatores que impactaram o desempenho do canal bar, principalmente pela queda no consumo de cerveja, categoria com 79,5% de importância. Já as bebidas energéticas, água de coco e os isotônicos, que são categorias de nicho, tiveram crescimento, assim como o gim, que cresceu bastante, embora seja uma categoria com base pequena.

Diante do aumento de preços, o consumidor adotou estratégias para equilibrar os gastos: 42% decidiram gastar menos fora de casa, 31% optaram por produtos mais baratos, independentemente da marca, 25% deixaram de comprar certos produtos e 22% passaram a procurar o menor preço, mesmo que para isso tivessem de ir a uma loja mais distante.

Trade down, trade up

A escolha por produtos mais baratos implicou no movimento chamado trade down, e as categorias que mais sofreram o impacto desse movimento foram mercearia e higiene e beleza. No primeiro trimestre de 2021, 31,4% do volume em mercearia vinha das marcas de preço mais baixo; em 2022, esse índice subiu para 33,1%. Em higiene e beleza, saltou de 30,7% em 2021 para 31,1% em 2022.

O movimento inverso, o trade up, quando o consumidor escolhe marcas mais caras, ocorreu nas categorias de bebidas e limpeza. No primeiro trimestre de 2021, o percentual do volume das marcas mais caras em bebidas era de 42,2%; em 2022, 44,8%. Já em limpeza, o salto foi de 43,2% para 44,8%. No caso das bebidas, o brasileiro parece estar consumindo menos, mas optando pelas marcas mais caras.

Outras estratégias do consumidor foram o abandono ou a diminuição de compra das categorias mais supérfluas, as substituições em bebidas e a prioridade aos cuidados pessoais e saudabilidade. Um dado interessante é a substituição do suco concentrado ou em pó, mais barato, por refrigerante, mais caro. Esse movimento se dá em função do aumento dos momentos de socialização, lazer e indulgência.

A volta à rotina também mudou os hábitos dos consumidores. Cuidados pessoais e bebidas não alcoólicas, categorias impactadas com queda de penetração em 2021, voltaram aos lares. Em higiene e beleza, o destaque fica por conta de cremes para a pele, desodorante, produtos para o cabelo e protetor solar. Entre os não alcoólicos, houve crescimento de água, isotônicos e energéticos e suco pronto, que contém 100% de fruta.

Quando o consumidor opta pelo menor preço mesmo que tenha de ir a uma loja mais distante, o cash & carry ganha relevância. Essa análise foi feita apenas com redes de supermercado, cash & carry e farmácias. A vantagem do cash & carry está no preço, mais competitivo que o do hipermercado. O canal cresce tanto por abertura de novas lojas como organicamente. De acordo com o estudo Tendências, em 15 anos o cash & carry ganhou 370 lojas; em cinco anos, foram 741. Já o hipermercado caminha no sentido inverso, com fechamento de lojas.

Copa do Mundo

Se, de um lado, a não realização do Carnaval no começo do ano impactou negativamente a venda de cerveja, por outro, a realização da Copa do Mundo em novembro pode ser uma oportunidade de alavancar vendas não apenas da cerveja, mas de outros produtos. O estudo Tendências mostra que os cenários das Copas de 2018 e 2022 apresentam várias semelhanças. Há quatro anos, o Brasil tinha uma inflação menor, porém, taxa de desemprego maior; em ambos os momentos, o País vivia uma instabilidade política. Em 2018, a greve dos caminhoneiros trouxe graves consequências ao consumo; em 2022, foi a pandemia. Em 2018, os jogos foram realizados pela manhã e à tarde; neste ano, serão todos à tarde.

O levantamento mostra que, em 2018, as categorias da “cesta Copa” cresceram no período de realização dos jogos. Cerveja apresentou grande crescimento já na primeira semana de jogos, principalmente no cash & carry. Amendoim foi destaque entre os alimentos, apresentando alto volume de vendas. Itens de churrasco também cresceram durante os jogos, com destaque para espetinhos e linguiça.

Neste ano, a Copa do Mundo terá início no dia 20 de novembro. Pesquisas mostram que o brasileiro está otimista com o Mundial e torcerá pelo Brasil independentemente da situação do País. Esse fato indica que indústria e varejo devem estar atentos, criando estratégias para reverter o cenário de retração e alavancar a venda de produtos.

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