“Ninguém barra o progresso”

Aos 29 anos, o presidente da ABAD Jovens e Sucessores, Flávio Vinte, tem ideias muito claras sobre inovação, tecnologia, gestão. Diretor global comercial e de analytics da AB Inbev (empresa fruto da união entre a brasileira Ambev e a belga Interbrew), baseado em Nova Iorque, Vinte afirma que a maior inovação que surgiu no mercado atacadista e distribuidor é, na verdade, um conjunto de mudanças que vem acontecendo. No passado, as tecnologias chegavam para substituir e inutilizar as existentes. “Agora, depois da internet, da mobilidade, inteligência artificial, novas tecnologias chegam para empilhar sobre as já existentes. Tecnologia sobre tecnologia é o que gera aceleração.”

Na sua opinião, a tecnologia está quebrando a barreira entre indústria e setor atacadista e distribuidor. Ele dá como exemplo a Amazon, que nasceu como varejista de livros e hoje é uma empresa do mercado financeiro, de streaming, de eletrodomésticos. “A Amazon aproveitou uma marca que tinha acesso ao consumidor e, com a tecnologia, passou a oferecer mais a esse cliente. A pergunta é: o que eu posso fazer hoje com a base de clientes que tenho e que ainda não faço?” Vinte acrescenta que a principal inovação é que as empresas pensam menos em barreiras e mais em como extrair mais valor daquilo que são capazes de criar para o seu cliente. “Mais do que uma tecnologia específica, é uma forma de pensamento.”

Um grande erro das empresas brasileiras e mundiais, no entender de Flávio Vinte, é a busca pela solução ideal. “Aqui na Inbev pensamos em qual problema queremos solucionar e não na solução. A partir daí, começamos a buscar alternativas que serão relevantes para solucionar o problema.” Como aumentar, por exemplo, a relevância junto ao varejista visando aumentar também o poder sobre esse relacionamento. A solução passa pela digitalização do cliente. “Quando você digitaliza o cliente com uma ferramenta sua e ele passa a usar essa ferramenta, por praticidade, vai preferir o seu atendimento e não o da concorrência.” Esse cliente que, antigamente, tinha quinze minutos por mês com o vendedor, passa a ter 40 minutos por mês, mas através de outro canal, como o e-commerce, por exemplo.

Sucessão

Flávio Vinte é categórico ao afirmar que é fundamental contratar as pessoas certas para estar ao lado dos gestores nas iniciativas e dentro do negócio. “No Brasil, quem costuma contratar os melhores profissionais para causar as transformações são as grandes indústrias, o mercado financeiro. O setor atacadista e distribuidor nunca se preocupou tanto com talento. Essa é uma cultura que precisa ser mudada”, raciocina, defendendo que esse segmento deve entender o tamanho de suas empresas e o potencial que tem em mãos pela relevância do mercado e ir atrás dos melhores profissionais também, com bons planos de carreira e oportunidades para as pessoas terem autonomia e criar coisas novas.

Outra questão diz respeito às empresas familiares. Muitas delas têm dificuldade em contratar profissionais que não são membros da família para cargos de gestão. Na opinião do presidente do ABAD Jovens e Sucessores, quem está gerindo o negócio tem que ser a melhor pessoa para isso. “Tem herdeiro muito bom que é capaz de ser o futuro do setor. Mas isso não é para todo mundo. A responsabilidade de um herdeiro assumir um negócio é enorme e é para algumas pessoas.”

Muitas vezes, há embates entre a velha gestão e os novos gestores. Os jovens tendem a pensar que os pais estão ultrapassados e valorizam pouco o que foi construído. Flávio Vinte enxerga as habilidades como complementares. “O jovem tem que pensar mais em tendências; já o sucedido consegue pensar mais nas pendências. Os sucessores devem tentar extrair o máximo de aprendizado de quem já está no negócio e quem está há mais tempo precisa dar autonomia para quem está chegando conseguir pensar em tendências, tecnologia.”

Nos Estados Unidos os atacadistas e distribuidores são empresas multinegócios, têm várias bandeiras, marcas próprias e franqueadas. Atuam com marketplace muito forte. Eaaaaaassas tendências devem chegar ao Brasil? “Se aparecer alguma iniciativa que é o progresso, ninguém barra o progresso. O melhor é estar junto com quem vai progredir. É preciso ficar atento porque as coisas mudam e temos que estar brigando com o que há de melhor no momento, criando vantagem competitiva para que o progresso não seja o que a outra empresa está fazendo, que o progresso seja o seu novo modo de trabalhar e de tirar benefício daquilo que está gerando.”

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