Nielsen: Preços em alta marcaram o ano

Inflação em ritmo crescente, taxa de desemprego em alta, pandemia que não dá sinais de arrefecimento. Esse foi o cenário em 2020 e que serviu de base para o estudo Tendência 4º Trimestre 2020, produzido pela consultoria Nielsen. De acordo com Daniel Souza Asp, gerente de relacionamento com o varejo da consultoria, o levantamento, que reúne a movimentação de 150 categorias em todo o mercado, revela que as cestas aferidas fecharam o ano com crescimento de 5,1% em faturamento e 1,4% em volume.
O estudo mostra que, ao longo do ano, houve um repasse de preços bastante evidente entre os diferentes canais de compra. Vale destacar o impacto do aumento de preço no mercado internacional das commodities. E o consumidor sentiu o aumento dos preços. Para 66,9% dos entrevistados do estudo, essa foi a maior preocupação, só perdendo para saúde própria e familiar, apontada como a principal preocupação por 74,1%.
Entre os canais de compra, o autosserviço independente, o chamado varejo de vizinhança, foi o que apresentou a maior importância para o abastecimento do consumidor, respondendo por 25,6% do faturamento das categorias. Esse canal teve crescimento de 12,2% em faturamento e 6,9% em volume. Logo em seguida aparece o cash & carry, que responde por 19,3% do faturamento e foi o canal que mais cresceu ano passado: 22% em faturamento e 11,2% em volume. “O crescimento do cash & carry vem se mantendo há vários anos. Mas o boom começou a partir de 2015, no início do segundo governo Dilma, com uma disparada da inflação e aumento do desemprego. Esse canal tem como premissa uma operação com custo mais baixo e isso pode ser repassado para o preço”, explica Daniel Asp.
Entre os canais que mais sofreram no ano passado, as perfumarias tiveram o maior índice de queda, 19,4% no faturamento e 17,6% em volume. “Em geral, as perfumarias estão localizadas em centros comerciais que ficaram fechados no ano passado, como os shopping centers.” O canal bar também foi impactado pelas medidas restritivas impostas para combater a pandemia. Por conta de bares e restaurantes terem passado um grande período de 2020 fechados, o canal teve retração de 17,5% no faturamento e 17,6% em volume.
Segundo o levantamento, os preços cresceram, em média, 3,7%, mas, no cash & carry que, teoricamente, vende mais barato, o aumento de preços foi maior, 9,7%. “Isso se explica pela elevação no preço das commodities, como arroz, feijão, óleo de soja, farinha, categorias predominantes nesse canal.”

Praticidade
A análise das 150 categorias feita neste estudo (a Nielsen faz outro levantamento, chamado varejo moderno, no qual são apurados dados enviados eletronicamente por todas as redes de varejo), privilegiou aquelas que possuem um consumo mais internalizado no domicílio, que fazem parte da base da alimentação do brasileiro. Por esse motivo cresce arroz, óleo, azeite. E crescem, também, os perecíveis industrializados e os congelados, que oferecem praticidade na hora de preparar os alimentos. “O consumidor que está em casa está trabalhando também; ele precisa ganhar tempo”, diz Asp. Por outro lado, categorias que são consumidas fora do lar como cereais em barra e sorvete sofreram retração. “Se faz uma compra grande e inclui sorvete nessa compra, quando o consumidor chegar em casa, o sorvete estará derretido.” Outra categoria que teve queda foi a do baby food, explicada pelo fato de, por estar comprando mais perecíveis frescos, fazer a papinha do bebê em casa é mais saudável.
A cesta de bebidas foi a única que apresentou queda tanto em valor (5,1%) como em volume (5%), mesmo com o consumidor levando o bar para dentro de casa. As maiores retrações ocorreram com cervejas e refrigerantes. Por outro lado, as categorias de energéticos, água mineral e água de coco tiveram crescimento.
Na cesta bazar, a única categoria que apresentou queda foi cola. “É a cola utilizada em trabalhos escolares e o fato de as escolas terem passado praticamente o ano todo fechadas teve impacto direto no consumo.”
No último trimestre de 2020, 90% das categorias de limpeza tiveram crescimento em vendas, com destaque para toalhas de papel, detergente líquido e desinfetante. As retrações ocorreram em ceras para pisos e gás fumegante, utilizado para matar insetos.
Já na cesta de higiene e beleza, sabonete, papel higiênico e creme para pele puxaram a alta. “O crescimento expressivo de creme para pele, de 14%, pode ser explicado por ser ele uma alternativa de tratamento em casa”, justifica Daniel Asp. Já categorias ligadas à beleza como pós-xampu, bronzeador e maquiagem perderam vendas.
O estudo da Nielsen aponta algumas estratégias que podem ser consideradas como vantagem competitiva, como os programas de fidelidade. Descontos em produtos, cashback, cupons e pagamento via Pix são oportunidades que os varejistas podem aproveitar. “Se eu acompanho o movimento do meu cliente, tenho condições de saber o que oferecer a ele, seja para aumentar o tíquete médio, seja para fidelizá-lo”, encerra Daniel Asp.

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